terça-feira, 15 de novembro de 2011

Acende a luz vermelha!




Era 17:00 horas daquele domingo ainda ensolarado, e tudo já havia terminado. 

Eu percebi a satisfação dos líderes presentes ali no evento, os mais entusiasmados eram os organizadores. 

      
Na saída alguns líderes comunitários formaram uma rodinha, tocavam violão e cantarolavam alegremente.

     Se não fosse o drama que eu tinha vivido naquela madrugada macabra, eu diria que tudo estaria muito bem, afinal, havíamos debatidos vários assuntos relacionados à nossa luta social, e estabelecido várias estratégias que mais a frente, colocaríamos em prática.

      De fato, meses após aquele evento, era o que se sucedera de forma coletiva no movimento, e de forma individualizada por nossa comunidade que seguia firme durante a minha gestão, na luta permanente em busca de uma vitória final..

     Mas, eu estava acuado no meu foro intimo, tinha sido vitima de um atentado traiçoeiro. Eles tinham me injetado alguma coisa com o intuito de provocarem a minha morte através de uma parada cardíaca, e, foi essa a conclusão que encontrei há alguns meses após aquele ato criminoso.



      Aquilo ali funcionou como uma Ditadura Canônica, algo semelhante as obrigações da Opus Dei.



      Diferente do que muitos líderes ali imaginavam, aquele que tivesse a ousadia de se lançar candidato a vereador, ou simplesmente comenta-se minimamente esta possibilidade, fatalmente seria o alvo dessa ação inquisitória.



      Na verdade, aquilo ali era um jogo político de cartas marcadas, que no pressuposto de uma discussão democrática, era algo parecido ao stalinismo, porém, com a carapuça teológica.

       Eu tinha sido apunhalado pelas costa por conta de um embate político eleitoral estabelecido ali naquela ante-sala do tempo.

      Eu jamais poderia ter imaginado a amplitude daquela luta eleitoral, e, do qual eu desconhecia que estava deflagrada.

      Até aquele momento eu sequer havia cogitado a minha participação em qualquer processo eleitoral de forma direta enquanto candidato.

      Na verdade, a minha filiação dentro do PMDB não cogitava esse objetivo, e o partido pra mim era apenas um abrigo temporário, fato este concretizado logo após a minha militância política no PCB, ainda naquele ano de 1989.

       Como marxista-leninista, meus objetivos políticos se limitavam apenas aos avanços sociais que era a “causa” maior de minha participação naquele que foi o navio-capitânia dos movimentos sociais ainda no período da ditadura.

      Não entrava na minha cabeça que aquela ONG composta por pseudo-s religiosos e militantes ocasionais, abrigava na verdade um grupo de pessoas envolvidas em falcatruas políticas, que sob um tema social, se utilizou do dinheiro público para projetos eleitorais privados, de teor e conotação criminosa, como o atentado que cometeram contra a minha vida.
     
       Eles agiram com um “fanatismo” eleitoral desmedido, ao ponto de cometerem um atentado político sem olhar a quem, justamente contra um integrante dos movimentos populares do qual posavam de representantes. 

     Eu não teria que acreditar em outro motivo, e entendo que, mesmo nas adversidades políticas e na pluralidade ideológica, o princípio da democracia deve prevalecer, e os direitos humanos respeitados, o que não foi o caso da minha participação junto aquele coletivo literalmente manipulado pela “Teologia da Mentira”.

      Eu me despedi daqueles líderes comunitários que estavam próximos de mim, e me dirigi até o ponto do ônibus.

      Eu também estava com uma vontade enorme de chorar, e, sinceramente, mesmo tendo sido um elemento capacitado, eu não cogitei em reagir à altura daquilo que tinha sido vítima.

      Eu pensava comigo, eu ainda estou vivo, estou respirando, e, essas fisgadas, e, essas queimaduras por dentro de meu corpo ainda vão passar. E, eu vou sair dessa mais uma vez. Eu sei que tentaram me matar, mas eu vou sair dessa, eu ainda vou viver para contar essa história.

      Eu pensava, sei que tenho capacidade de reagir, mas eu não tenho certeza quem cometeu o atentado. Eu sei que foram os integrantes da ONG, mas não sei quem foi o autor?

      Eu já havia escapado de um atentado no ano de 1973 quando ainda estava no exército. Eu também tinha sofrido um atentado no ano de 1975 na Rua Orfanatrófio, bairro Alto Teresópolis em Porto Alegre, e tive sorte porque não estava dentro do barraco que haviam metralhado.

      Este comentário eu enviei há alguns anos atrás para o endereço eletrônico do site da ONG Brasil Tortura Nunca Mais com sede no Rio de Janeiro. Na época, eu não recebi nenhum comentário de retorno e deixei por isso mesmo.



      E, também não é difícil de comprovação, basta os “interessados” levantarem a lebre na 2ª Auditoria Militar em Porto Alegre, local onde tramitou o meu processo militar por crime de deserção ainda no ano de 1974.  

      Eu peguei o ônibus em direção a Florianópolis, estava ansioso pra chegar a minha casa, tomar um banho e me examinar para ver em que parte do corpo eu havia sofrido aquela agulhada. E, foi o que fiz, sem comentar nada pra minha ex-companheira que havia ido buscar em Porto Alegre. 

      Na verdade, ela era aquela menina que tinha se asilado comigo no ano de 1982 na embaixada da França. Ela ainda vive até os dias de hoje na comunidade de Areias do Campeche, com os meus filhos Samuel e Michelle, que ali cresceram, e que me proporcionaram netos. 

     Eu pensava comigo, eu preciso ficar vivo, quero ver os meus filhos crescerem, eu também pretendo ver a minha comunidade sair vitoriosa nessa luta por justiça social, eu vou vencer.

      Isso me atormentava todos os dias e, eu olhava pra minha ex-mulher que vivia comigo na mesma casa, enquanto construíamos a dela, e pensava, se eu ficar pelo caminho, você vai cuidar dos nossos filhos, eles ainda eram crianças, aliás, todos os meus quatro filhos, ainda eram crianças.



      Além disso, a minha atual companheira estava grávida da minha ultima filha, mesmo ela estando morando provisoriamente em outra casa.

      No outro dia pela manhã eu chamei o meu vice-presidente da Associação, e comentei com ele o atentado do qual tinha sido vítima. Ele ficou assustado com o meu comentário, e disse-me que por essas e outras é que não gostava de dormir junto a estranhos. E ele tinha toda a razão, eu tinha sido vítima nesta condição.

      Eu ainda continuava com o meu coração periodicamente acelerando, em alguns momentos ficava normal e a seguir continuava disparando, era como uma taquicardia.
Eu também sentia aquelas fisgadas por dentro das veias que latejavam como se tivesse algum medicamento ou droga química agindo no seu interior.



      Eu comecei a ficar extremamente preocupado, andava de um lado para outro quase sem rumo, e sem demonstrar para as pessoas que estavam por perto, a agonia que estava vivendo.

     Eu ficava pensando continuamente o que eu faria para resolver aquela situação, às vezes eu sentia que poderia morrer a qualquer momento.

      Eu conversei mais uma vez com o meu vice-presidente do Sindicato dos Artesãos e da Associação dos Moradores sobre o assunto, e decidi procurar ajuda. Eu pensava comigo, é melhor agir assim, do que sofrer calado.

     No outro dia eu fui ao centro da cidade e registrei um boletim de ocorrência sobre o acontecido. O policial de plantão me escutou atentamente, e foi registrando aquilo que entendeu como um ato de contaminação por objeto pontiagudo, na verdade uma tentativa de homicídio com aquele instrumento. 



      A seguir me deu uma cópia (que tenho guardada até hoje) e me orientou dizendo que o delegado daquele distrito policial iria proceder a uma investigação.

      No outro dia eu fui trabalhar na feira de artesanato da Praça XV de Novembro, no centro da cidade. Após o meio dia, eu decidi colocar o assunto para o conhecimento público. Fui caminhando até a sede do jornal A Noticias e lá chegando relatei o acontecido para o meu amigo e jornalista Edson Rosa que me escutou atentamente.

      Ele ficou meio assustado com meus comentários, e eu havia percebido que ele tinha ficado relutante em fazer aquela publicação, então eu disse pra ele, se você não quiser publicar, tudo bem, mas se decidir esteja à vontade.

      A seguir me despedi daquele que considero um excelente jornalista, aliás, um grande parceiro das lutas sociais. O Edson Rosa (atualmente no Diário Catarinense) não publicou aquele acontecimento, e eu respeitei a sua decisão.



       Ainda no mesmo dia eu fui até o Palácio Barriga Verde (sede do governo estadual), entrei na recepção, cumprimentei o responsável que já conhecia há algum tempo e perguntei se o Sub-Chefe da Casa Civil já havia chegado ali, e, ele me respondeu que sim.

      Eu precisava criar uma espécie de cordão político de proteção para impedir que praticassem outro atentado contra a minha vida.

      Eu subi as escadas, bati na porta e pedi licença falando: Bom dia Deputado, eu preciso conversar com o senhor, e ele respondeu: Pois não, sente ai nesta cadeira.

       O ex-Deputado Murilo Canto era o Sub-Chefe da Casa Civil do governo do estado na gestão de Pedro Ivo Campos/Cassildo Maldaner.

      O Murilo Canto era praticamente a nossa chave de entrada no palácio do governo estadual, pela sua condição de Sub-Chefe da Casa Civil. Todas as demandas políticas, ou de convênios, que tínhamos com o governo, eu encaminhava por ele. Foi assim também com as ajudas financeiras para a manutenção da nossa Associação dos Moradores através do BESC Clube.

      Eu contei pra ele o ocorrido, que escutou atentamente, e, ele ficou intrigado com o acontecimento, e, a seguir sugeriu-me que eu procurasse um médico para fazer alguns exames de sangue.



       Ele ficou assustado com o que eu acabara de relatar e exclamou: O PT já está agindo assim? Porque fizeram isso?

      Eu falei pra ele que, naquele momento eu não teria condições de pagar algum exame específico. Ele perguntou o que eu precisava, e que me ajudaria no que fosse necessário. Fez um cheque de sua conta pessoal e me entregou, a seguir pegou o telefone e ligou para a Secretaria da Saúde do Estado avisando que eu passaria lá para pegar um encaminhamento para atendimento no Hospital Nereu Ramos.

      Bem, foi o que fiz, porém, no dia da consulta, que foi marcada para o outro dia, eu fui caminhando em direção ao hospital e fiquei pensando, O GAPA (Grupo de Apoio aos Portadores de Aids) ficava separado apenas por uma parede no mesmo prédio que está localizado o CAPROM, na verdade no mesmo prédio do antigo Departamento Estadual de Saúde Pública, ali na Rua Felipe Schimidt no centro da capital, que estava cedido para as duas ONGs de forma filantrópica. 

      Eu pensava, se eu fizer o exame ali independente dos resultados, mais hoje mais amanhã a ONG CAPROM vai ficar sabendo que eu fiz aqueles exames e poderá deduzir que eu esteja desconfiado do atentado que tinha sofrido lá no encontro da Escola Rural da Cidade de Palhoça, na verdade, terra natal da Ivone Perassa que nasceu na Guarda do Embaú.

      Eu cheguei à porta do hospital, entrei, olhei para o balcão, me aproximei da atendente que me perguntou: o que o Senhor deseja? Eu respondi, desculpe, eu me esqueci do papel, vou ali buscar e já volto. Não retornei, fui até o ponto do ônibus e me dirigi novamente à comunidade.

      Fiquei com aquilo na minha cabeça por uma semana, até que decidi ir a São Paulo e fazer os exames num laboratório particular. Eu paguei muito caro por aqueles exames, mas eu tinha recebido a ajuda pessoal do então Sub-Chefe da Casa Civil, o ex Deputado Murilo Canto. 

     Eu levei quase quatro meses para ir buscar o resultado, mas eu tinha a certeza que iria dar negativo.

      O meu coração ainda disparava periodicamente, aquelas fisgadas por dentro das minhas veias, e aquela dor cansada que sentia nas juntas, ficaram em meu corpo por uns sete ou oito meses, nos primeiros dois meses era contínuo, mas nos meses seguintes eu sentia aquilo de forma mais espaçada, e com o passar do tempo, misteriosamente foram desaparecendo.

      Eu ainda continuava com uma pequena dúvida em relação ao teste HIV que havia feito em São Paulo, e que na verdade, era uma doença que naquele período assustava toda a sociedade. Esse vírus tinha sido recentemente descoberto no Brasil, e se eu não estiver enganado, foi no ano de 1983, e eu precisava tirar aquela ínfima dúvida da minha cabeça.

      Bem, eu retornei a São Paulo e fiz o teste novamente, e não deu outra, o resultado me tranqüilizou, eu não era portador do vírus.

      Eu tenho um relacionamento familiar até os dias de hoje com a mesma companheira, e não poderia colocar a minha família em risco, além disso, a minha companheira estava grávida, esperava uma menina que graças a deus, nasceu, e vive com plena saúde.



      Até os dias de hoje eu fico pensando, o meu organismo resistiu a algum tipo de droga que eles tinham injetado para me matar de uma parada cardíaca. Eu acredito que a dose tenha sido muito pequena pelo fato de eu ter me acordado naquele momento macabro.

O meu organismo reagiu ao longo dos meses, e, acredito, foi criando anticorpos para me manter vivo...  

     Aquela droga que me injetaram, para acabar com a minha vida, foi fragorosamente derrotada pela própria vida.






Qual o sentido da vida, se não a própria vida?

      Mesmo após ter sofrido aquele atentado, eu ainda buscava contato com os integrantes da ONG, afinal, eu precisava ter eles por perto para fortalecer a minha própria defesa, eu sempre soube isso desde o tempo que estive no exercito, eu passei a ficar mais “antenado” do que nunca (sic).



      Os meses seguintes que antecediam as eleições presidenciais foram de intensas atividades políticas nos movimentos populares, tanto sindicais, como no campo e nas cidades, aqui no estado de Santa Catarina e no restante do Brasil.



       O MST acirrava as estratégias de luta ampliando as ocupações de terras pelo Brasil afora, aqui em Santa Catariana as ações batiam de frente com o momento político, incluindo ai, a ocupação de órgãos públicos que estava surtindo resultados.

      E, ainda dentro do movimento dos Sem Teto, na semana subseqüente ao atentado que eu havia sofrido, e que de jeito nenhum eu demonstrava ter percebido, eu preparava a lista dos moradores da nossa comunidade, que iriam invadir a prefeitura de Florianópolis. 

      Na ocupação seria um grupo de dez pessoas por comunidade participante do movimento, que simbolizava exatamente o número 13 de treze comunidades que compunham o movimento dos Sem Teto, ou seja, o número do PT que totalizaria 130 pessoas reunidas para a ocupação. Coincidência ou planejamento?

É obvio que era planejamento!

     ... Bem, um dia antes da invasão da prefeitura, na verdade numa segunda e ultima reunião que faríamos no interior da Catedral Metropolitana, eu decidi não comparecer, até porque, sinceramente, eu não conseguia olhar de frente para os dirigentes da ONG. Não conseguiria olhar para a Ivone Perassa, e muito menos para o Padre Wilson Groh, afinal, foram eles que programaram aquele evento na escola Rural da cidade de Palhoça...

      Eu sentia um ódio mortal daquele acontecimento, e sabia que não poderia ficar alimentando aquilo no meu gene mental. Eu também sabia que aquela ocupação poderia mudar os rumos dos acontecimentos em ralação a questão litigiosa que estávamos vivendo, pelo menos essa era a minha expectativa, por isso eu ainda continuava relutante em abandonar aquele coletivo antes daquela ação.

       Na verdade, aquela ação seria a ultima participação da nossa comunidade junto ao movimento dos Sem Teto, que era controlado pela ONG CAPROM e, pelo chamado PT igreja representados pela “Teologia da Mentira”.



     Afinal, como dizem em Porto Alegre, popularmente falando, “eu não sou mulher de Brigadiano” (mulher que gosta de apanhar de marido Policial Militar). 

      ...Na noite que antecedia a invasão, eu reuni a diretoria e convocamos uma lista de moradores, na verdade aqueles que estavam mais em sintonia com os acontecimentos e participavam assiduamente de nossas reuniões. 



     Nosso objetivo era discutir internamente os detalhes finais e preparar a invasão que faríamos no dia seguinte com as demais comunidades integrantes do Movimento dos Sem Teto...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Atentado político...



           Eu havia me deitado para dormir por volta das 00:30 hs. (meia noite e meia).

      Deram-me uma espetada com uma agulha, e eu sabia que tinha sido isso, porém não tinha conseguido identificar o local exato.



 Eu senti que tinham mexido em meu corpo. 




       Os meus olhos estavam pesados, como se eu não conseguisse me manter acordado. Na verdade, tinha sido ali naquele momento. Meu corpo tremeu, eu senti um calor muito forte por dentro de minhas veias. Eu havia acordado, e alguma coisa me dizia que eu deveria fingir estar dormindo. Minha experiência passada fez com que mantivesse os olhos fechados por alguns segundos.

      Eu percebi que a luzes do quarto não estavam acesas, num primeiro momento, eu quase sentei na cama por um impulso, mesmo assim eu me mantive na mesma posição que me fez acordar.

      Eu senti um forte calor e uma espécie de coceira nas panturrilhas das duas pernas, aquilo ali não era normal.

Meu coração ficou acelerado, e, foi acelerando mais, algo semelhante a uma taquicardia.

    Eu comecei a abrir os olhos lentamente e os mantive quase que completamente fechados, o suficiente para observar o vulto semelhante o de uma mulher bem próxima de mim e levemente agachada.

    Na porta do quarto havia mais duas pessoas que também estavam saindo agachadas, elas desapareceram no corredor. Eu estava com muito sono, acredito que eu tenha dormido até aquele momento pouco mais de uma hora.

      Eu realmente estava cansado e fazia um esforço descomunal para me manter acordado. Eu estava dormindo na parte debaixo do beliche. Na parte superior dormia o João que era o líder da comunidade do Jardim Ilha Continente.

       Eu comecei a pensar o que estavam tentando fazer comigo? Queriam me matar, e por quê?

      Naquele momento a minha vida passou como uma fita de cinema, muito rapidamente. Lembrei-me do sofrimento que havia passado quando ainda era menino. Eu me tinha lembrado que quando tinha 12 anos havia sido batizado por um padre.

      O meu padrinho era o Padre S.J. Armando Marocco, ele tinha uns 50 anos, e era de descendência italiana.

      O meu padrinho foi transferido para o Canadá. Eu havia recebido dele uma carta e um bonito postal da cidade Montreal, Província de Quebec, e outro da diocese do bairro de Qué, na mesma cidade.

      O padre Armando Marocco era poliglota, e eu me lembro que ele falava muito bem o italiano, inglês, espanhol, francês e o latim, até porque ele costumava falar da importância de se falar outros idiomas, inclusive ele nos incentivava muito a estudarmos para um dia sermos pessoas de bem...

      Eu nunca mais soube noticias dele. Na verdade tínhamos sido batizados num grupo de uns 8 meninos, e ele era o padrinho de todos nós.

      Eu pensei, porque estava me lembrando dele ali naquele momento? Seria um pedido ou um aviso de socorro? Eu sou muito duro de acreditar nessas “bobices” (sic).

Eu não conseguia aceitar que alguém ali tentara me matar.

      Em segundos a minha vida passou como um relâmpago pela minha cabeça, e lembrei-me da luta desigual que estávamos fazendo contra o poder econômico e político da cidade.

      Na verdade nossa luta era contra essa situação, e não adianta quererem desvirtuar para outro caminho.
     
      Em síntese, as lutas urbanas e do campo são travadas contra essas forças.

      Após cerca de uns dois minutos acordado, mas de olhos quase fechados, eu vi que tinham se afastado completamente de mim. Eu fiquei com vontade de me levantar, mas preferi ficar como estava.

      Aquela coceira tipo uma queimação nas panturrilhas (batata das pernas) me incomodava, e eu comecei a passar as mãos coçando o local. Aquilo ali diminuiu, mas o meu coração continuava acelerado. Enfim, não resisti, e peguei no sono.


      Já era umas 07:00 hs, e eu acordei, olhei para os lados e não vi ninguém ali no quarto, todos que dormiram ali já tinham feito a sua higiene pessoal e estavam terminando de tomarem café.

      Após sair do banheiro e me dirigi ao refeitório, às mesas estavam quase vazias e o pessoal estava conversando informalmente esperando o inicio das atividades. Bem, eu tinha vários amigos ali, então porque não me chamaram?

      Aquela atitude ali virou uma incógnita na minha cabeça. Eu fiquei incomodado com aquela situação. Alguém ali pediu para não me acordarem.

       Até aquele momento eu era considerado um elo importante na aglutinação das comunidades.
Eu era uma referencia no princípio de tudo, e eu não entendi aquele ato de não me acordarem.

      Além disso, aquele atentado que tinham cometido contra a minha vida me atormentava a cabeça, eu dissimulava de todas as formas como se não tivesse percebido o que tinham feito comigo naquela madrugada macabra.
Eu pensava comigo, eu vou me safar mais uma vez...
E eu continuava pensando, alguém ali tentou me matar injetando alguma coisa em meu corpo, mas eu vou sobreviver.

      Houve alguns momentos que pensei, será que me contaminaram com algum tipo de vírus? 



      Eu pensei em todas as possibilidades, e a contaminação por HIV eu descartei imediatamente, mas não tinha essa convicção em 100%.

      Eu também imaginava que aquele atentado tinha o objetivo de me provocar a morte. Imaginava que, quem cometeu o atentado estava pretendendo unicamente me atingir.

      Não seriam capazes de tamanha loucura porque sabiam que eu tinha família. A minha vida sempre foi socialmente transparente. A ONG sabia que eu tinha filhos, eles estavam bem informados porque se relacionavam com pessoas que me conheciam há muitos anos.

      Eles sabiam que eu tinha 4 filhos e minha atual companheira esperava uma menina que hoje está 21 anos. Eu tenho o Junior e a Christiane do primeiro casamento, o Samuel e a Michelle do segundo, e a Munique do terceiro, embora não estivessem todos comigo.

     Enfim, eles não seriam capazes, com essa forma hedionda ao cometerem aquele atentado, e de envolver minha família naquela ação.

Eu tomei café quase que solitário na mesa, havia várias pessoas no refeitório, mas todos já tinham tomado o seu café.
Cerca de 20 minutos após, iniciou as atividades.

      Na sala a frente do refeitório, havia uma lousa e um teólogo que se apresentou dizendo ser de São Paulo e que estava ali contribuindo para o evento.

      Ele iniciou dando uma aula sobre a estrutura fundiária do Brasil. Falou sobre o período das monoculturas, do ciclo do café, das capitanias hereditárias, da luta pela terra citando a revolta de Canudos e outros eventos históricos.

      Eu escrevia rapidamente para poder passar aos integrantes da comunidade. Naquele momento, mesmo tendo sofrido aquele atentado, eu não comentei com ninguém ali presente. Comportei-me como se nada tivesse acontecido.

      Mesmo assim eu sutilmente observava que estavam me olhando com certa discrição. Era a Ivone, o tal professor e alguns membros da ONG. Eu fingia não notar e às vezes me levantava e ia à janela acender um cigarro.

      Não havia motivos para todos me olharem, mas acredito que algum assunto comentado entre eles tivesse trazido aquele comportamento, talvez alguma coisa banal com o objetivo de criar uma observação na minha pessoa.

      Eu procurei não demonstrar surpresa alguma e muito menos o de me sentir desconfortável com aqueles olhares sutis.

      Depois de mais de uma hora e meia de “aula” houve uma pausa para um cafezinho e a seguir tudo reiniciou no ponto de parada.

      Naquele momento o meu coração estava bastante acelerado, e eu comecei a sentir umas fisgadas nas veias dos braços, nas juntas dos joelhos.

      Eu sentia uma fraqueza repentina, na verdade uma espécie de cansaço nas juntas do corpo inteiro.

      Eu estava com 35 anos, e havia levado uma vida bastante saudável até aquele momento. Eu nunca tinha adoecido, e também nunca tinha sentido nada parecido com aquilo ali.

      O tempo foi passando até que paramos para o almoço. Eu deixei as minhas anotações em cima da carteira, fui até a lousa, peguei um giz e escrevi:
“Tornei-me um cadáver ambulante porque não fui compreendido, busco paz e justiça social, estou com Deus!”

      Após escrever isso, fui ao banheiro e retornei ao tempo de ver a Elaine anotar numa folha de papel o que eu acabara de escrever. Discretamente eu pude observar que ela mostrava pra outros integrantes da ONG CAPROM.

      Aqueles escritos ficaram ali até o inicio das atividades logo após o descanso de cerca de uma hora após o almoço.

      Quando reiniciamos as atividades da tarde, logo após uma explanação sobre a reforma urbana, eu vi que os meus papeis estavam em outra posição.

      Até os dias de hoje eu tenho a convicção de que aquela encenação junto aos demais Ongueiros, de revirarem os papéis que eu estava escrevendo, tinha o único objetivo de criar um fato que justificasse qualquer desconfiança de minha parte no sentido de que eu estivesse agindo de forma errada, ou coisa parecida.

      Na verdade eles precisavam criar um fato qualquer para dissimular o acontecimento daquele evento macabro. Tentaram me confundir ao me tratarem quase como VIP logo após o atentado.

      Eu notei a atenção que a Ivone me dava diante dos outros integrantes do movimento, ela passava a imagem de que estava tudo normal, mas não estava...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tornei-me um cadáver ambulante porque não fui compreendido, busco paz e justiça social, estou com Deus!




... Um atentado estava a caminho e, eu jamais imaginaria que estivesse sendo o alvo principal de tamanha insanidade...



       Era um final de semana ensolarado, eu convidei o meu vice-presidente da Associação dos Moradores (Manoel Francisco Inácio), conhecido como Dódi, para irmos até aquele encontro e, esperei-o quase até o final do dia. Nós trabalhávamos na feira de artes e artesanato da Praça XV de Novembro no centro da capital e, eu havia recolhido o meu material mais cedo por conta daquele evento.

       O Dódi é artesão e meu amigo desde os anos 70, tínhamos nos conhecido em Porto Alegre. Ele também era o meu vice-presidente no Sindicato dos Artesãos de Florianópolis, na verdade ele também era um dos fundadores.

      Nós também tínhamos combinado sair no inicio da tarde, conforme eu havia comentado com a “irmã” Ivone Perassa..

      Já era quase 16 horas quando este apareceu, e disse-me que não poderia ir. Enfim, decidi ir sozinho, mas fiquei com o compromisso de repassar as informações sobre o acontecimento, como sempre fazíamos.

      Eu havia descido do ônibus que tinha me levado até a cidade de Palhoça, município da grande Florianópolis, e caminhando, perguntei para um senhor que estava vindo em minha direção: Como faço pra chegar até a Escola Rural? Ele me respondeu, o senhor vai por ali e entre naquela outra rua que logo encontrará.

      Enfim, chegando à frente, eu olhei pra sua fachada, quase que detalhadamente, era um prédio relativamente grande.

      Chegando à porta encontrei alguns líderes comunitários, cumprimentei-os e segui conversando com aqueles que eu tinha mais intimidade. Nesse momento apareceu a “irmã” Ivone Perassa e disse-nos: Vamos até ali que eu vou mostrar os quartos que irão dormir.

      O prédio tinha várias salas, refeitório, quartos com beliches e uma cozinha do tamanho ideal para aquela estrutura educacional.

      O quarto que fiquei era relativamente amplo e parecia-me um dormitório de fato, não era um dormitório de improviso comumente criados em eventos coletivos realizados nas escolas. Imaginei que ali ficavam os estudantes de algum curso técnico rural.

      Naquele quarto havia vários beliches enfileirados, as roupas de cama estavam limpinhas e arrumadas. Nós precisávamos apenas esticar o esqueleto, imaginei (sic), afinal, naquela semana nós tínhamos feito várias atividades na comunidade e, eu ainda tinha de conciliar o trabalho com as atividades políticas no movimento, enfim...   

      Logo a seguir fizemos um rápido lanche e nos dirigimos a uma sala onde havia uma tela e um projetor de filmes e slides.

      Depois de uma explanação reafirmando o objetivo de nossa presença ali naquela Escola Rural, iniciou-se uma seção de curta metragem e, filmes sobre temas sociais.

     Nós sentamos em várias cadeiras escolares que estavam postadas em filas organizadas e bem próximas uma da outra.

       Primeiramente, assistimos a uma fita curta metragem que tinha um tema relacionado às lutas sociais de uma cidade e a necessidade da reforma urbana.

      Eu achei muito interessante aquele curta-metragem, ele realmente retratava a situação de penúria social dos moradores ali representados.

      O filme colocava em aberto um debate sobre aquela situação. Mostrava o quanto eles viviam em condições desumanas cercados pelas riquezas do qual não lhes favorecia enquanto moradores.

       Na verdade, os moradores das periferias são os verdadeiros trabalhadores braçais, que com seus esforços, contribuem na edificação do progresso e das riquezas das cidades onde vivem.

      Naquele curta metragem, a especulação imobiliária era uma realidade semelhante a nossa em Florianópolis.

       Eu me senti dentro daquela situação, que de fato, retratava aquilo que quase todos os lideres comunitários ali presentes vivenciavam no seu dia a dia, sem energia elétrica e sem saneamento básico nas periferias e nos morros da “ilha da magia”, da terra das “bruxas”, e do “boi de mamão”, das lendas e do folclore da ilha de Santa Catarina.

      Logo ao término daquele curta metragem, houve uma pequena explanação, e a seguir iniciou outro filme que tinha o titulo de “Terra para Rose”.

      Este filme tinha cenas reais e contava a historia de Rose, uma agricultora Sem Terra que foi assassinada durante sua luta pela reforma agrária.

      Rose foi uma brava lutadora do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Rio Grande do Sul. Ela havia participado da ocupação de terras, de manifestações, das marchas pela terra, e também era integrante dos “acampados” da Encruzilhada Natalino, local embrionário do movimento, onde houve o inicio dos enfrentamentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra com a Brigada Militar, no inicio dos anos 80.

       Eu tinha ficado emocionado com o filme, tinha vivenciado cada momento daquela luta que já conhecia desde o Rio Grande do Sul, meu estado natal.   Também já tinha ouvido comentários sobre aquele filme, há algum tempo atrás, e ali eu tive a oportunidade de assisti-lo.

       Após o final fizemos alguns comentários e ficamos liberados para dormir, afinal, no outro dia teríamos muitas atividades relacionadas ao tema.

      No caminho dos dormitórios havia um refeitório, e neste havia várias mesas com quitutes, cachorros quentes, sanduíches, salgadinhos, café, sucos e refrigerantes. Aquilo ali era um convite para uma farta degustação.

      Eu me aproximei de uma das mesas e me servi à vontade, comendo um cachorro quente e tomando um café.

      Quando estava indo em direção aos quartos, passei ao lado da porta da cozinha, vi ali bem a frente de um grande fogão a lenha, nada mais e nada menos do que o Toni. Eu pensei comigo, o que esse cara está fazendo aqui?

       Ele não era integrante do Movimento dos Sem Teto e não fazia parte da comissão de negociações das áreas em litígios da grande Florianópolis, na sua grande maioria, ali reunidos, que eram representados pelos lideres comunitários presentes.

      O Toni (ex-caseiro do Álvaro) era apenas o marido da Elaine que ali se fazia presente como integrante do quadro funcional da ONG CAPROM (Centro de Apoio e Promoção do Migrante). Mas, eu entendi, ele estava ali ajudando na cozinha

     Sua presença, também não era por menos, o casal fazia parte do circulo de amizades pessoal da “irmã” Ivone Perassa.

      Eu me dirigi até o Toni e cumprimentei-o, ele puxou conversa comigo perguntando-me como estava às coisas, as lutas, a vida etc. Eu perguntei a ele sobre o seu trabalho, e se ainda tinha aquela Kombi (perua) que eu tinha visto com ele a alguns dias antes daquele encontro, enfim, ele me respondeu e eu me despedi desejando a ele uma boa noite.

      Por tudo o que eu tinha presenciado o Toni fazer, eu ainda não conseguia sentir ódio dele ou mesmo de sua companheira Elaine. Eu o conhecia desde o tempo que era artesão, tinha visto ele pela primeira vez em Itajaí no ano 1978, durante minhas andanças, e posteriormente em Floripa, ainda no mesmo ano. Passado alguns anos, infelizmente, na condição de caseiro do engenheiro Álvaro.

       Na verdade, eu apenas não me sentia bem com a presença de qualquer um deles naquela luta, que no passado já tinham demonstrado não lhes pertencer. Eu sempre considerei a presença da Elaine um contra-senso por parte de Ivone Perassa, diante do que eu lhe havia comentado.

      Eu pensava comigo, sei que as pessoas têm todo o direito e a capacidade de socialmente se regenerarem ou, de fazerem uma mea culpa. Mas ali naquele momento eu não estava com essa compreensão.

       E, eu pensava, eu não tenho que estar perdoando ninguém. Primeiro porque não estavam me pedindo e, segundo, quem sou eu para perdoar alguém?

      Durante as lutas nos movimentos sociais, e durante os embates políticos, como militante, a gente não consegue contemporizar com os contraditórios de classe ou de comportamentos (a contemporização de classes é a linha mestra dos sociais-democratas), na verdade, essa é a autentica ideologia da Teologia da Mentira.

      E, cá entre nós, você acha que a igreja católica se vê dentro de um país socialista? Você teria certeza disso?

      Nem vamos muito longe, basta lembrarmo-nos das suas ações, na Polônia do Papa anticomunista (João Paulo II), e do sindicato “Solidariedade”, aquele dos trabalhadores do porto de Gdansk, tanto espelhado pelos petistas ao ponto de virar moda em camisetas utilizadas pela pequena burguesia nos anos 80. 

      Ademais, o fracassado “nacional-desenvolvimentismo” defendido pela “Teologia da Mentira” é utilizado como ferramenta de convencimento e formação política junto ao MST, a Via Campesina, as mulheres agricultoras e aos SEM TETO.

     E, serve também, como uma cartilha da “farsa revolucionária” para a manutenção da propriedade privada, um dos alicerces mais sólidos do capitalismo de estado.

      Esse embuste ideológico representa na verdade, o fortalecimento do capitalismo nacional, algo parecido com o direito de explorar e distribuir misérias, ou seja, um pressuposto social dentro do marco capitalista da exploração de classe.

      Por isso, nós não podemos perder o foco do objetivo final, que é a luta permanente por uma sociedade socialista.

       Desde cedo, quando me tornei um militante marxista-leninista, eu sempre me envolvi na defesa direta dos interesses vitais dos trabalhadores.

      Eu também sou um cara que popularmente chamamos de “meio xucro”. Não sou disciplinado no sentido de “obediência cega”. Se em meio aos embates eu perceber alguma imposição baseada no personalismo, eu costumo esquivar-me sem fugir da luta.

      Houve um período inicial durante minha militância nos anos 70, que eu tive a oportunidade de conhecer os escritos e os pensamentos de Alexandre Bakunin.

      Como artesão, essa ideologia anarquista era a base ideológica da nossa categoria naquele período. E, nos dias de hoje, essa ideologia ainda predomina em algumas partes do Brasil em meio às comunidades dos artesãos mais antigos e nas feiras hippies tradicionais.

       Ora, eu não tinha dúvidas, como já havia me tornado, inicialmente, um marxista-leninista, o comunismo cientifico predominou na minha formação política.

      Foi assim com a categoria profissional dos artesãos, muitas vezes até chamados de lumpéns, por setores ditos de esquerda, que eram na verdade, integrantes da pequena burguesia “fedorenta e fascista” incrustados nos movimentos sociais de massa.

      Foi assim também durante minha participação na “ação direta” dos quebra-quebras em São Paulo no ano de 1983, nas manifestações contra a Ditadura Militar, nas greves dos trabalhadores de várias categorias durante os anos 70/80 em vários estados do Brasil, na luta pelas eleições “Diretas Já” e na luta urbana dos trabalhadores Sem Teto na comunidade de Areias do Campeche.
      
        Mesmo não sendo um intelectual, minha luta sempre se fez na condição de “praticista” ou simplesmente como uma tarefa revolucionária permanente, independente de cúpulas dirigentes, ou do Comitê Central.

      Eu nunca me esquivei, ou demonstrei medo diante do gigantismo das injustiças e dos poderosos, mesmo em alguns momentos eu estando vivendo em condições quase paupérrimas, juntamente com minha família, que eu havia construído até aquela data.

        A minha filiação circunstancial no PMDB até parte daquele ano de 1989, tornara-se irrelevante diante do objetivo final da minha luta, que é até os dias de hoje, a busca incessante por justiça social, e pelo socialismo enquanto ideologia de uma sociedade sem classes, sem explorados e sem exploradores.

       Enfim, eu cheguei a pensar pra mim, certas atitudes não me convencem como sendo meramente ocasionais.

     Bem, eu também não tinha como impedir a sua presença.  Eles eram eventualmente mais umas daquelas pessoas que não tinham discernimento de classe, talvez por isso tivessem agido daquela forma, quando ainda trabalhavam para o engenheiro Álvaro.

      A seguir, eu fui direto para o quarto, e lá chegando vi que a maioria já estava dormindo. Putz, eu pensei comigo, é o cansaço da turma, eu também vou dormir...