Por Liga Bolchevique Internacionalista
Hoje completam-se exatamente treze anos do 11 de Setembro,
sem sombra de dúvidas uma data histórica para a humanidade onde se crava um
marco na rota da decadência militar do Pentágono e ao mesmo tempo inicia-se o
recrudescimento da ofensiva neoliberal sobre os povos. O ataque às Torres
Gêmeas em New York, assim como o quartel general do Pentágono em Washington,
realizado por organizações fundamentalistas com meios militares não convencionais,
representou a maior humilhação para os EUA desde o ataque japonês sobre a base
de Pearl Harbor na II Guerra Mundial levando a morte de cerca de 2.500
militares ianques. Em Setembro de 2001 pela primeira vez na história dos EUA
seu maior símbolo de hegemonia militar sobre o planeta, o Pentágono, quase veio
abaixo, fazendo com que o toque de recolher soasse na Casa Branca (situada a
poucos quilômetros dali). O então presidente (facínora) Bush foi obrigado a se
esconder nos subterrâneos do “palácio imperial”, sob o forte impacto emocional
de poder ser “eliminado do mapa” através de um “bombardeio” realizado por uma
aeronave civil. As Torres Gêmeas que abrigavam várias corporações financeiras e
também um dos maiores escritórios da CIA em território norte-americano, vieram
abaixo deixando um saldo de mais de 2000 mortos, entre yuppies, bombeiros ,
funcionários da CIA e trabalhadores de grandes firmas que possuíam sede no
World Trade Center. Logo depois do atentado ao coração do monstro imperialista
se formou uma enorme frente política mundial para combater a “ousadia” dos “fanáticos
fundamentalistas orientais” da Al Qaeda, que responderam na mesma moeda com que
os EUA “tratava” o povo muçulmano. Também não faltaram as vozes da esquerda
stalinista e revisionista para asseverar a “tese” conspiratória do “autoatentado”,
afinal a Al Qaeda não passava de uma cria dos EUA para atacar a antiga URSS. O
fato é que quando o “cão morde a mão do dono” a “ferida” parece nunca
cicatrizar. A ofensiva guerreirista lançada pelos EUA após o 11 de Setembro
patina em derrotas políticas até hoje, seja no Afeganistão ou mesmo no Iraque.
O núcleo central da Al Qaeda também se fracionou com a morte de Bin Laden,
restando a Casa Branca financiar setores fundamentalistas bem mais “descontrolados”.
Este parece ser o caso do EI (ISIS), armados pelos EUA para atacar os regimes
nacionalistas de Kadaffi e Assad e que agora se voltam contra o “amo” exigindo
a sua própria parte no botim da destruição de nações inteiras. O Blog da LBI
para registrar a data histórica, reproduz um documento elaborado logo após o 11
de Setembro de 2001. Trata-se de um dos mais importantes textos políticos
escritos pela esquerda revolucionária no limiar deste novo século, onde traça
um prognóstico exato (quase “premonitório”) da nova conjuntura mundial reacionária
que iria abrir-se a partir deste marco histórico de inflexão global na
correlação de forças entre as classes sociais.
O 11 de Setembro e a ofensiva imperialista
Os
ataques de 11 de setembro, no coração do monstro
imperialista ianque, marcam a abertura
de um novo período político na etapa histórica de correlação de forças
entre as
classes em nível mundial, aberta logo após a derrubada
contra-revolucionária do
Muro de Berlim e a destruição do Estado operário burocratizado
soviético, com a
conseqüente perda das conquistas operárias obtidas a partir da revolução
de 17. Pela primeira vez na sua história, os EUA sofrem um tipo de
bombardeio em seu próprio território, excluindo o bombardeio às bases
navais de
Pearl Harbor na 2ª Guerra Mundial, fazendo cair por terra o enorme mito
da
invulnerabilidade militar da grande fortaleza inexpugnável.
Utilizando-se de
armamento não convencional, como jatos da aviação civil, uma organização
militar, provavelmente fundamentalista islâmica, infringiu pesadas
baixas ao
alto comando do Pentágono e à Agência Central da CIA em Nova York,
sediada em
uma das torres do World Trade Center. O próprio presidente Bush,
revelando em
seu ato toda a covardia do império assassino, fugiu como uma galinha
durante
dois dias, enquanto sua frota naval abandonava às pressas os portos da
costa
americana, temendo uma reedição dos ataques kamikases ocorridos na 2ª
Guerra
Mundial. Quando o alto staff do Pentágono certificou-se de que o "grande
ataque" concentrava-se na captura de quatro aviões civis e que todo o
poderio bélico da maior força armada do planeta não corria perigo de ser
"dizimado", passaram a rugir como um leão ferido, ameaçando
bombardear todos os países muçulmanos, que possivelmente poderiam ter
alguma
relação com os atentados do dia 11, "em uma ofensiva militar longa,
ampla
e implacável", segundo as palavras de Bush (The New York Times, 09/10),
um
anúncio prévio da intenção de atacar, além do Afeganistão, também o
Iraque e o
Líbano, como afirmou em carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU:
"Podemos descobrir que nossa autodefesa requer ações em relação a outras
organizações e países" (Idem).
ATAQUE TERRORISTA OU RESPOSTA MILITAR AO TERRORISMO
IMPERIALISTA
Imediatamente após os atentados do dia 11, uma ampla frente
contra-revolucionária mundial foi formada, encabeçada pelo imperialismo ianque
(governo Bush e democratas), englobando toda a social-democracia européia, as
burguesias títeres dos países semicoloniais (inclusive árabes e muçulmanas), a
extrema direita nazi-sionista, o imperialismo japonês, a burguesia
restauracionista russa, a burocracia stalinista cubana e chinesa, finalizando
com o conjunto da esquerda reformista internacional, incluindo-se a totalidade
do pseudotrotskismo, que se mostrou refém da opinião pública pequeno-burguesa,
além de completamente impotente diante do brutal ataque às massas que se
prenuncia no próximo período. Esta frente mundial tem como principal eixo político
a veemente condenação aos "atentados terroristas" nos EUA e o combate
ao "terrorismo".
Sob os mais variados argumentos, que vão desde a
"defesa da liberdade" feita pelo carniceiro Bush, passando pela
"defesa da democracia e justiça" levantada pela social-democracia e
suas variantes, até a "defesa da revolução socialista" esgrimada pela
esquerda pseudotrotskista, todos se juntaram para condenar os "ataques
terroristas" e solidarizaram-se com as "vítimas" do Pentágono e
os yuppies financistas do WTC, além é claro dos agentes da CIA e policiais que
também foram "vitimados" pelos "bárbaros terroristas".
Assim como na ditadura sangrenta da Argentina nas décadas de 70 e 80, a
esquerda pseudotrotskista acabou por reproduzir em escala mundial a conduta
venal do MAS (Movimento ao Socialismo, então PST, fundado por Moreno), que
solidarizava-se com os familiares dos militares assassinos
"vitimados" por "atos terroristas", tudo em nome do
"combate aos métodos equivocados do terrorismo individual e em defesa da
revolução socialista".
O núcleo "lógico" desta nova aliança
contra-revolucionária mundial, que permeia a direita até a extrema
"esquerda", consiste em caracterizar os ataques do dia 11 na
categoria do terrorismo individual. Como marxistas revolucionários, não ingressamos
e nunca ingressaremos em uma "frente pela condenação" encabeçada pelo
governo Bush, assim como empunhamos em alto e claro som que quem merece a
verdadeira condenação de todo o proletariado mundial, assim como de todos os
povos oprimidos do planeta é o genocida imperialismo ianque, responsável pelos
mais brutais e covardes ataques terroristas aos povos e nações oprimidas e
exploradas de todo o mundo. Em segundo plano, consideramos absolutamente
equivocado enquadrar na categoria teórico-política de "terrorismo
individual" os ataques do dia 11.
O imperialismo norte-americano, desde a destruição
contra-revolucionária dos estados operários do Leste Europeu, vem desencadeando
uma ofensiva política, econômica e militar contra o proletariado mundial sem
precedentes em toda a história recente. Sem o contrapeso militar do Pacto de
Varsóvia e com o fim do Exército Vermelho, que embora comandado pela burocracia
soviética ainda representava, mesmo que contraditoriamente, as conquistas de
Outubro, os marines ianques se sentem "livres" para trucidar todos os
"obstáculos" aos interesses econômicos das grandes transnacionais e
trustes imperialistas. Desde os anos 90, não foi mais possível infringir golpes
mortais aos ianques como na China, Coréia, Cuba, Vietnã, Nicarágua etc. A
Guerra do Golfo marca a virada na arena político-militar em favor do
imperialismo. Nesta última década, além da subtração das conquistas históricas
do proletariado mundial, com o aumento do desemprego e os selvagens ritmos de
produtividade levados a cabo pela nova "organização do trabalho", o
imperialismo vem desenvolvendo uma guerra de rapina permanente a várias nações,
que inclui guerras convencionais de "grande impacto", como no Iraque
e mais recentemente na Iugoslávia, alternando com guerras de "baixo
impacto" a países como o próprio Iraque, bombardeado sistematicamente por
dez anos consecutivos, Sudão, Afeganistão e Palestina, sem falarmos em
intervenções militares como na Colômbia, Albânia, Haiti, Timor Leste etc.. As
chamadas guerras de baixo impacto, promovidas pelo imperialismo ianque, têm
causado a morte de centenas de milhares de civis, ainda que não ganhem as
manchetes da mídia internacional, como o atual conflito.
Para se ter uma noção dos danos provocados pelos covardes
bombardeios ianques de "baixo impacto" pelo mundo, só no ataque ao
Afeganistão em 1998, em uma represália à suposta responsabilidade de Osama bin
Laden pela explosão de uma bomba na embaixada dos EUA no Quênia, morreram mais
de 5 mil cidadãos afegãos. No Iraque, mesmo após contabilizarem-se as vítimas
diretas da guerra em 91 (100 mil iraquianos), já morreram mais de 200 mil civis
após o término formal da "guerra oficial", fruto do bloqueio
econômico e dos bombardeios e todas as suas conseqüências posteriores. Na Palestina
e no sul do Líbano, estima-se em mais de dez mil mortes provocadas pelos
ataques do enclave imperialista de Israel só nos últimos cinco anos. Não é
preciso nos estendermos mais em números e países para se concluir que os EUA
estão em guerra permanente, não declarada, a uma série de países e, em
particular aos povos árabes e muçulmanos com maior intensidade, como o Iraque,
Afeganistão, Sudão e Palestina. As palavras do próprio Bin Laden revelam a
realidade de guerra levada a frente pelo imperialismo aos povos oprimidos da
região: "O que a América enfrenta hoje é uma porção muito pequena do que
enfrentamos há décadas... Nossa nação islâmica tem sentido a mesma coisa há
mais de 80 anos, a humilhação e a desgraça, seus filhos são mortos e seu sangue
é derramado... Um milhão de crianças inocentes morrendo no momento em que
falamos, estão sendo mortas no Iraque sem nenhuma culpa. Não ouvimos nenhuma
crítica, nenhum édito dos governos hereditários. Todos os dias vimos tanques
israelenses na Palestina indo a Jenin, Ramallah, Beit Jalla e não ouvimos
ninguém levantar a voz ou reagindo." (pronunciamento de Bin Laden
transmitido pela TV Al Jazeera, 07/10).
Os marxistas revolucionários sabem perfeitamente distinguir
entre o terror individual e atos de guerra, mesmo que envolvidos em
características de terrorismo e sabotagem militar, que também são elementos de
qualquer guerra regular. Por acaso, quando o imperialismo ianque utilizava a
contaminação química de rios em regiões controladas pela guerrilha da FMLN em El
Salvador na década de 80, não estava praticando a guerra não declarada, com
métodos cristalinos do terrorismo militar?! Não podemos em hipótese alguma
colocar um sinal de igual por exemplo entre a seita Aum Shinrikyo (Verdade
Suprema), que utiliza-se do método do terror individual para colocar gás sarin
no metrô de Tóquio, com o Hamas ou a Jihad que em guerra contra Israel coloca
uma bomba em um shopping de Tel Aviv ou em um posto militar em Haifa. O
atentado terrorista ao Oklahoma Center, em 1995, operado pelos nazi-ianques,
tem conteúdo completamente distinto aos ataques às embaixadas dos EUA em
Nairóbi (Quênia) e Dar Assalam (Tanzânia), à explosão da base aérea de Dhahran,
na Arábia Saudita em 1996, ou ao bombardeio ao destróier norte-americano USS
Cole, no Iêmen. Nestes últimos casos, trata-se de uma legítima resposta militar
a alvos do imperialismo ianque, em ataque terrorista permanente aos povos
oprimidos do planeta. Os ataques do dia 11 de setembro, sejam ao Pentágono ou
às torres do WTC, que sediavam a CIA em NY (apesar do WTC também abrigar alvos
não militares, uma minoria de trabalhadores lamentavelmente mortos como
conseqüência da própria guerra que os EUA desferem contra os povos oprimidos),
não podem ser enquadrados como "terrorismo individual", sob pena de
desconsiderar todo o contexto da luta de classes internacional. Por acaso, os
grupos "fundamentalistas" palestinos não têm o direito de responder
com as armas que dispõem (dinamites em corpos de seus militantes), já que não
possuem em seu arsenal bélico caças F/A-18 Hornet, aviões bombardeiros B-2,
mísseis Tomahawk, helicópteros apache etc.?! Seria legítimo ou não o Taleban e
o Al Qaeda responderem militarmente ao bombardeio imperialista sofrido em 1998
no Afeganistão, com os "armamentos" que possa dispor e nesse caso só
dispõe de armamento não convencional (elementos de terrorismo militar) para
atacar o território norte-americano? Salta aos olhos que a
"ignorância" da esquerda reformista e pseudotrotskista dos fatos da
luta de classes só serve aos interesses do imperialismo mundial e das
burguesias lacaias. Utilizar revolucionários como Trotsky em sua preciosa e
atual crítica ao terrorismo individual, como justificativa para se integrar à
frente mundial em condenação aos atentados terroristas nos EUA, é inteiramente
repugnante. Representa a continuidade da mesma frente mundial que celebrou a
destruição da URSS, como grande vitória do proletariado mundial.
Desgraçadamente, essa frente vem se ampliando, com a adesão de muitas correntes
que em 1991 recusaram-se a se somar na "festa" promovida pelo
imperialismo sob os escombros dos Estados operários.
Leon Trotsky que analisou profundamente a questão do
terrorismo individual em seu contexto político da luta de classes, recusava-se
a estabelecer repreendimentos morais contra métodos que considerava legítimos,
porém, equivocados em seus objetivos sob a ótica dos interesses do proletariado
mundial. Afirmava que em princípio não poderia-se descartar a utilização de
atos de "terror" em uma conjuntura de guerra civil, por exemplo, por
parte de uma organização revolucionária. Combatia sim o terrorismo individual
como método político-militar pela inutilidade de suas conseqüências, já que tem
como tradição manter as massas distantes de suas ações "espetaculares",
mas mesmo assim considerava que toda "simpatia" política dos
revolucionários deveria estar com os qualificados pela burguesia de
"terroristas". Dizia Trotsky: "Todas nossas emoções, nossa
simpatia estão com os sacrificados vingadores, embora eles tenham sido
incapazes de descobrir o caminho correto." (Leon Trotsky: "A favor de
Grynszpan: contra os bandos fascistas e a canalha stalinista", 1939). Para
aqueles como os filisteus "esquerdistas" que não se envergonharam nem
um minuto sequer de condenar furiosamente os ataques aos EUA do dia 11 de
setembro, sob a ótica da opinião pública burguesa, utilizando-se inclusive de
citações marxistas para proclamarem a vigência da luta pelo socialismo, as
lições do velho bolchevique servem como um antídoto ao seu cretinismo
"revolucionário": "A solidariedade moral nos une desde já a
Grynszpan, não a seus carcereiros ‘democráticos’... No sentido moral, mas não
por sua forma de atuar, Grynszpan (jovem "terrorista" antifascista,
NDR) pode servir como modelo para todo jovem revolucionário. Nossa sincera
solidariedade moral com Grynszpan nos garante o direito de dizer a todos os
futuros Grynszpans; a todos aqueles capazes de sacrificar-se na luta contra o
despotismo e a bestialidade: buscai outro caminho!" (idem). Buscando delimitar-se
com os reformistas "escandalizados" com atos terroristas, Trotsky
nunca acalentou nenhum tipo de "frente" política para condenar o que
denominou de "ardente desejo de vingança". Ao contrário, procurava
explicar pacientemente as limitações do método terrorista, como forma de
derrotar a barbárie capitalista: "Não há nenhuma necessidade de insistir
em que os socialistas nada têm a ver com estes moralistas pagos, que em
resposta a qualquer ato terrorista falam solenemente do ‘valor absoluto’ da
vida humana... Digam o que digam, os eunucos e fariseus morais, o sentimento de
vingança tem seus direitos... Não extinguir o insatisfeito desejo proletário de
vingança, mas ao contrário avivá-lo uma e outra vez, aprofundá-lo, dirigi-lo
contra a verdadeira causa da injustiça e baixeza humanas; tal é a tarefa dos
socialistas." (Leon Trotsky, "Acerca do terrorismo").
"GUERRA SANTA" OU REVOLUÇÃO PROLETÁRIA MUNDIAL
PARA DESTRUIR O IMPERIALISMO GENOCIDA
O ataque aos EUA não pode ser analisado sob o ângulo de um
acadêmico pequeno-burguês, que de seu gabinete universitário arrota
"conceitos marxistas" contra o terrorismo individual, para depois
concluir que estes atos acabam servindo aos interesses de Bush. Qualquer
análise marxista minimamente conseqüente deve partir do seguinte pressuposto:
os bombardeios norte-americanos, nos últimos anos, aos povos árabes e
muçulmanos geraram quase meio milhão de mortes, é justo ou não que o direito de
vingança seja exercido contra o monstro imperialista? Como revolucionários, afirmamos
que sim, e por esta razão não ingressamos no contra-revolucionário coro
uníssono mundial em condenação ao ataque ao Pentágono e à sede da CIA em NY.
A Organização Comunista Internacionalista - Cuarta
Internacional (Argentina), OCI-CI considera absolutamente insuficientes e
limitados os ataques realizados no dia 11 de setembro sobre os EUA, não por sua
eficiência estritamente militar (sob esta ótica, poderiam ser considerados
grandiosos, diante da superioridade bélica ianque no planeta), mas pela
ausência da mobilização de massas no mundo imperializado, que acompanhasse esta
ação no centro do imperialismo. As organizações fundamentalistas islâmicas, que
provavelmente tenham protagonizado o ataque aos EUA carecem de um programa
marxista revolucionário. Ao invés de conclamarem a guerra antiimperialista,
convocando inclusive a poderosa classe operária norte-americana para derrotar
seus próprios verdugos, apelam a uma "guerra santa", desprovida de
conteúdo proletário, como se as burguesias árabes muçulmanas fossem menos
carniceiras do que as burguesias ocidentais cristãs. Neste sentido, ao mesmo
tempo em que não nos juntamos à escória internacional "antiterrorista",
não podemos deixar de proclamar a ineficiência dos ataques e de seus promotores
como mola propulsora da revolução proletária mundial.
Uma vigorosa delimitação programática com as organizações
fundamentalistas muçulmanas, ou com qualquer direção política que não
represente os interesses do proletariado mundial, mas que em qualquer
circunstância se enfrente militarmente com o imperialismo, deve partir do
pressuposto do nosso apoio incondicional à sua trincheira militar, sem
capitular um milímetro sequer ao seu programa contra-revolucionário. Combatemos
desde o mesmo campo militar antiimperialista com nossa estratégia da revolução
socialista mundial, para construir, no campo da luta real e concreta das massas
oprimidas, o partido revolucionário, ou seja, a Quarta Internacional. Lutamos
na Palestina com o Hamas, Hezbollah, ou a FPLP, na mesma trincheira militar
para destruir o enclave nazi-sionista de Israel, explicando pacientemente à
vanguarda combatente, que somente a superação da estratégia nacionalista e
islâmica e a adoção da estratégia política de lutar por uma Palestina
soviética, que unifique o proletariado árabe, palestino e judeu, poderá
conduzir à verdadeira revolução socialista para varrer o gendarme genocida do
imperialismo na região. Também na guerra do Golfo, combatemos lado a lado com
as tropas chefiadas pelo nacionalista burguês Saddam Hussein para derrotar o
imperialismo. Publicitamos às massas que a orientação política de Saddam
Hussein levaria a uma retumbante capitulação ao imperialismo, sem que isto nos
colocasse no campo do imperialismo, ou do pacifismo pequeno-burguês; nos
mantivemos firmes na defesa da vitória militar do Iraque sobre a máquina de
guerra do imperialismo genocida. Não poderíamos mudar de posição agora no atual
conflito entre os EUA e o Taleban, sob pena de uma tremenda traição ao programa
que defendemos, ou seja, a revolução proletária mundial. Os que se escondem
envergonhados na frente mundial em repúdio ao ataque aos EUA do dia 11 de
setembro e traficam a nefasta política do pacifismo pequeno-burguês são os
mesmos reformistas e pseudotrotskistas que se limitam exclusivamente a pedir a
suspensão dos bombardeios sobre o Afeganistão, sem anunciarem claramente qual é
a trincheira da classe operária mundial nesta guerra, uma guerra imperialista
de rapina contra um país oprimido.
Lutamos pela vitória militar afegã, assim como fizemos no
Iraque durante a Guerra do Golfo, porque a derrota do imperialismo significa o
fortalecimento da Intifada palestina, da unidade revolucionária dos povos
oprimidos do Oriente Médio e um apoio à mobilização das massas árabes e
muçulmanas contra seus governos títeres, assim como a sua extensão para o
proletariado em todo o planeta, que tem suas conquistas atacadas pelos mesmos
monopólios e grupos econômicos que patrocinam a bestial ação militar
norte-americana contra o Afeganistão.
A OCI-CI não dissimula sua posição política explícita de
apoio incondicional ao Afeganistão, Taleban e Al Qaeda contra a ofensiva
militar imperialista, mas a unidade de ação militar antiimperialista não nos
impede, nem nos imobiliza de estabelecer uma dura separação política entre
nossos interesses revolucionários e os interesses nacionalistas burgueses do
Taleban e seus congêneres. Ao contrário, afirmamos que a estratégia do
nacionalismo burguês, seja fundamentalista muçulmano ou não, levará cedo ou
tarde a uma capitulação ao imperialismo, como fizeram Saddam Hussein e
recentemente Milosevic na Iugoslávia. Somente a conquista da direção
político-militar deste conflito nas mãos de um partido revolucionário, poderá
conduzir as massas oprimidas à vitória cabal e definitiva sobre o regime
capitalista mundial, representado militarmente pela força armada imperialista.
BIN LADEN: UMA CRIAÇÃO DA CIA CONTRA O ANTIGO ESTADO OPERÁRIO
SOVIÉTICO
As organizações de "esquerda", que hoje não têm o
menor pudor de classe em condenar os "atos terroristas" sobre os EUA,
possivelmente promovidos por Osama bin Laden, em sua grande maioria apoiaram
sua "guerra santa" contra a ocupação do Exército Vermelho no
Afeganistão em 1979. Naquela ocasião, agentes da CIA treinaram e armaram os
mujaheddin (guerreiros da liberdade) para desestabilizar o governo de frente
popular, dirigido pelo Partido Popular Democrático de Babrak Kar-mal, uma
espécie de satélite político da burocracia soviética. Por adotar medidas muito
tímidas e limitadas, que feriram interesses dos latifundiários semifeudais do
Afeganistão seguidores do Islã, como uma reforma agrária parcial e a abolição
da burqa (véu muçulmano imposto às mulheres) e da escravidão feminina, o
governo frente-populista do PPD sofreu um ataque militar dos mujaheddin
apoiados pela CIA, que tencionava o estabelecimento de um posto avançado do
Pentágono na fronteira com o Estado operário soviético. Uma posição justa do
proletariado mundial deveria partir do apoio à ocupação soviética ao
Afeganistão, assim como da exigência de um programa radical de expropriações,
no caminho da extensão das conquistas de 1917 naquele país atrasado, porém
integrado à produção capitalista mundial.
Em 1989, os burocratas restauracionistas, liderados por
Gorbachev promoveram a retirada do exército soviético do Afeganistão, pactuando
com os EUA a retirada dos agentes da CIA do país e o estabelecimento de um
governo muçulmano oriundo das diversas milícias fundamentalistas que combateram
os soviéticos. Neste governo, o Taleban (formado a partir da influência da
burguesia paquistanesa sobre a região) integra-se como fração minoritária até
1995, quando, a partir da barbárie vigente surgida desde 1989, golpeia as
demais frações e concentra o poder do Estado em suas mãos.
A partir do governo central do Taleban, que controla cerca
de 90% de todo o território nacional, Bin Laden e Al Qaeda iniciam seu novo
"combate sagrado" ao antigo aliado: o imperialismo ianque, fundando
núcleos de treinamento de guerrilha no Afeganistão.
É óbvio que a drástica mudança de Bin Laden, armado pela CIA
nos anos 70 e agora seu principal inimigo, tem como móvel a espoliação do
território afegão e árabe pelos grupos econômicos imperialistas, que geram a
miséria e atraso secular de toda a Ásia Central e península arábica. A pressão
política das massas e o sentimento antiimperialista obrigam as direções
islâmicas a adotarem uma postura "radical" contra alvos imperialistas,
mas sem a conseqüência de uma luta internacional proletária contra o
capitalismo mundial. Por isso, essas direções nacionalistas burguesas oscilam
em momentos históricos, ora combatendo os interesses do proletariado, como no
caso da ocupação soviética em 79, ora combatendo o imperialismo, como na Guerra
do Golfo, ou no atual enfrentamento militar com os EUA.
O IMPERIALISMO IANQUE ENCABEÇA A ABERTURA DE UM PERÍODO DE
RECRUDESCIMENTO POLÍTICO E MILITAR SOBRE O PROLETARIADO MUNDIAL
A ascensão de Bush à frente do maior e mais poderoso Estado
imperialista do planeta, mesmo tendo perdido as eleições diretas para o
democrata Al Gore, quebrando uma linha de continuidade de dois mandatos do
Partido Democrata, representou o prenúncio de que o imperialismo ianque
necessitava "ajustar" sua política econômica e militar frente ao novo
ascenso de massas aberto nesta virada de século.
A era Clinton teve como marco uma orientação para o centro
de unificação com a social-democracia européia, em um período inaugurado após a
vitória americana sobre o Iraque, antecedida pela derrubada do Muro de Berlim.
O imperialismo ianque e europeu buscavam a cooptação do movimento operário
internacional, enquanto avançavam em um processo sem precedentes de
recolonização mundial e restauração capitalista no antigo bloco soviético. A
partir do final da década de 90, inicia-se um processo parcial, mas
ininterrupto de reorganização de lutas, já não exclusivamente defensivas, tendo
como ápice o multitudinal ascenso latino-americano (em especial a queda do
governo Jamil Mahuad no Equador) e a retomada da Intifada palestina.
A aparição em primeiro plano no cenário internacional de
nomes como Berlusconi, Ariel Sharon, Jörg Haider, Putin, Bush correspondem à
necessidade do imperialismo de investir com sua mão direita sobre a reação
proletária internacional.
Com o ataque do dia 11, o imperialismo norte-americano
utiliza-se do estado de guerra para tentar direcionar uma massa enorme de
capital subreproduzida, estocada em títulos do tesouro norte-americano
remunerada com taxas de juros cada vez mais baixas, em função da profunda
recessão da economia norte-americana, para a indústria bélica, um recurso
tradicional do capitalismo em momentos de depressão econômica. Enquanto mais de
cem mil trabalhadores das empresas de aviação civil foram demitidos após o dia
11, o governo Bush já destinou uma verba de 15 bilhões de dólares para a
guerra, além de 40 bilhões de dólares para a recuperação do Pentágono e da
região em torno do WTC. Além de fortalecer tendências latentes dentro (e fora)
do próprio Partido Republicano a uma fascistização do regime político
norte-americano. A criação de uma super secretaria de defesa interna, chefiada
pelo ex-governador da Pensilvânia Tom Ridge, favorecendo a criminalização dos
movimentos sociais, que agora podem ser qualificados de antipatrióticos para
sofrerem todo tipo de perseguição policial, além do clima de xenofobia
instalado no país são alguns elementos deste novo período aberto a partir do
dia 11. Nos próprios EUA já foram efetuadas mais de 500 prisões de imigrantes
de origem árabe e muçulmana e o governo Bush apresentou uma série de medidas
draconianas ao Congresso que restringem as próprias liberdades civis dos
norte-americanos, com a desobrigação de autorização judicial para a instalação
de escuta telefônica e da necessidade de provas para deter por tempo
indeterminado suspeitos de terrorismo. Além da supressão às liberdades
democráticas nos EUA, soma-se a censura à imprensa, que tem as informações e
imagens veiculadas limitadas às imposições oriundas do Pentágono.
Os órgãos de inteligência e o monstruoso aparato
tecnológico-militar imperialista (CIA, FBI, NSA) utilizam-se da chamada
"luta antiterror" para impor a perseguição às minorias, às
organizações de esquerda e lançar uma ameaça pública a qualquer Estado nacional
que possa ser um obstáculo aos interesses políticos, econômicos e militares do
imperialismo ianque.
No plano internacional, a ampliação da influência militar
ianque em regiões estratégicas é uma meta a ser alcançada a partir da guerra
com o Afeganistão, já tendo sido inclusive planejados, no próximo período,
bombardeios a outros países.
Seria absolutamente equivocado supor que a partir da
humilhação sofrida com a derrubada das torres gêmeas do WTC e do ataque ao
Pentágono, que o imperialismo ianque começasse imediatamente uma etapa de
declínio político e militar, em contraposição aos seus inimigos, os novos
"bárbaros" do mundo muçulmano. A humilhação sofrida pelos EUA não tem
uma correspondência direta com o desenvolvimento da organização e consciência
da classe operária nos principais centros de produção capitalista mundial.
Somente a organização revolucionária da classe operária mundial poderá derrotar
historicamente o imperialismo ianque. As investidas de "terrorismo"
militar sobre os EUA, ao contrário, devem reforçar as tendências ao
recrudescimento político e militar sobre os povos oprimidos de todo o planeta e
também sobre a própria classe operária norte-americana. As mobilizações
multitudinais que ocorrem no mundo muçulmano, por mais importantes que sejam
para a derrota do imperialismo, são insuficientes do ponto de vista político
(pelo caráter nacionalista burguês, e em grande parte fundamentalista islâmico
de sua direção), para alcançar uma vitória cabal e imediata sobre o principal
centro do terrorismo contra a humanidade: o imperialismo ianque.
É muito provável que outros ataques ocorram tanto nos EUA,
como na Europa, solidificando as tendências da extrema direita nazi-ianque a
tomar para si o controle direto do Estado, com o objetivo de aplastar com
métodos de guerra o conjunto dos adversários do imperialismo em terreno
nacional e internacional. Assim como o incêndio ao Reichstag (sede do
parlamento alemão) nos anos 30 serviu como pretexto para pavimentar a via de
ascensão ao poder dos nazistas, podemos sustentar que o ataque aos EUA do dia
11 inaugura um período de ascensão da extrema direita ao poder estatal na
América. Caberá à poderosa classe operária norte-americana, como apoio do
proletariado mundial, barrar este caminho aberto, que tem o governo Bush apenas
como ponto de transição política. Para combater essa tendência em curso, que já
vinha se expressando com a imposição do Plano Colômbia na América Latina e na
ampliação das bases militares ianques por todo o mundo, é preciso que o
proletariado mundial, as massas das nações oprimidas, a vanguarda classista dos
países avançados lutem pela derrota do imperialismo na guerra com uma
perspectiva socialista, como parte do combate contra o processo de
militarização em andamento.
O ataque aos EUA vem servindo como justificativa para que os
governos das metrópoles imperialistas imponham uma militarização da ordem
mundial, já extremamente recrudescida com a supremacia militar norte-americana
após a queda da URSS. Assim, os amos imperialistas podem impor com maior
facilidade a recolonização imperialista das nações e patrocinar a milionária
indústria militar, em retração desde o fim da chamada "guerra fria".
Desta forma, o imperialismo elege seu novo inimigo mortal, o
"terrorismo", substituindo o comunismo e a ex-URSS como principal
ameaça aos seus interesses no planeta.
A caracterização das tendências atuais de recrudescimento
político e militar por parte do imperialismo sobre o planeta com a conjuntura
aberta após o dia 11, de modo algum poderia justificar um emblocamento
reacionário contra os ataques aos EUA. Se é verdade que o partido
revolucionário trabalha com seus próprios métodos políticos na luta contra o
capitalismo, quais sejam os da mobilização permanente das massas rumo à
revolução socialista, não podemos desconhecer a legitimidade da violência (o
direito à vingança) dos povos agredidos pelo terror estatal imperialista em
responderem na mesma moeda, mesmo que isto implique na morte de civis
(inclusive trabalhadores) em território norte-americano. Uma questão é a
intransigente defesa programática dos métodos próprios de ação da classe
operária, outra é completamente oposta, é somar-se aos piores verdugos do
planeta na condenação ao "terrorismo" dos oprimidos.
A GUERRA CONTRA O AFEGANISTÃO PROVOCA A REAÇÃO MUNDIAL DAS
MASSAS CONTRA O IMPERIALISMO
A frente contra-revolucionária mundial, formada para
condenar o ataque aos EUA do dia 11 de setembro, por mais ampla que fosse, não
anulou a reação das massas contra a bestial e covarde investida anglo-ianque
contra o Afeganistão. Apesar da humilhante capitulação dos governos títeres da
região, como Pervez Musharraf no Paquistão, ou mesmo do lambe-botas do
imperialismo Iasser Arafat, as massas árabes e muçulmanas saem cotidianamente
às ruas em solidariedade ao Taleban, inclusive com o desejo de combaterem de
armas na mão a ocupação militar ianque naquele país. O governo paquistanês
decretou Lei Marcial no país e não cessa a repressão, com vários mortos e
centenas de prisões. Contra a população insurgente na Palestina, Arafat
solicitou ao nazi-sionista Sharon armas para dispersar as manifestações
populares a favor do Taleban. Na Indonésia, a filha de Sukarno, recém-empossada
presidente, Megawati Putri, chegou a cerrar as fronteiras do país para evitar
que milhares de ativistas deixassem o país para combater no Afeganistão.
Os EUA e a Grã-Bretanha, valendo-se da impotência, covardia
e capitulação dos governos do Oriente Médio, avançam o processo de corrupção
das burguesias árabes para que reprimam as massas e se alinhem militarmente com
seus amos imperialistas, silenciando-se diante dos ataques ianques-britânicos,
como foi a resolução da mais recente cúpula árabe-muçulmana. Não por acaso, o
Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, viajou para o Oriente Médio para
literalmente comprar o apoio dos países árabes antes do bombardeio
imperialista, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, como parte da ajuda
canalha da social-democracia européia, lançou a política de "pão e
bombas", com a distribuição de alimentos para cobrir a intervenção
imperialista de uma áurea humanitária de ajuda ao faminto povo afegão.
Lutar energicamente pela vitória militar do Taleban sobre a
máquina de guerra assassina do imperialismo é a tarefa fundamental da classe
operária em todo o mundo. A derrota do imperialismo será um duro golpe em seus
planos de estabelecer um potentado no Afeganistão, bem no coração da Ásia
central, uma região que além de muito rica em recursos naturais, como gás
natural e petróleo, é estratégica para a hegemonia militar absoluta dos EUA na
única parte do planeta onde isto não ocorreu. A implantação de um enclave do
imperialismo na Ásia central significa para os EUA o controle político,
econômico e militar desta região, intimidando diretamente a Rússia, para depois
estender seu domínio sobre as antigas repúblicas soviéticas do Uzbequistão,
Tadjiquistão, Cazaquistão e Turcomenistão (concluindo desta forma o esquartejamento
definitivo da antiga URSS), também representa uma ameaça ao Estado operário
chinês já que mísseis de curto alcance poderiam atingir suas principais
cidades, e por último a subjugação completa do Paquistão e da Índia, países que
possuem armamento atômico e até então possuíam uma pequena autonomia frente aos
ditames de Washington.
A unidade de ação militar com o Taleban, Al Qaeda, Saddam
Hussein, Hamas, Hezbollah etc., ou qualquer organização ou governo de países
oprimidos que se enfrentam militarmente com o imperialismo, de modo algum
significa apoio político ao programa ou à estratégia político-militar destes
agrupamentos. Os bolcheviques leninistas combatem desde a mesma trincheira do país
oprimido, mas com total liberdade programática e de ação política e militar
junto às organizações e governos que não representam os interesses históricos
da classe operária. Como nos ensinou Lenin, defendemos a derrota do
imperialismo como a forma de desenvolver a consciência socialista de classe no
proletariado mundial e encorajar a luta de massas contra o capitalismo, em suas
diversas formas de regimes políticos: "Os partidários da consigna ‘Nem
vitória, nem derrota’ (o que equivale hoje à reduzida palavra-de-ordem ‘defesa
do Afeganistão’, ou ‘fim da guerra’, NDR) aderem uns e outros ao ponto de vista
do social chauvinismo. Uma classe revolucionária não pode deixar de desejar a
derrota de seu governo em uma guerra reacionária e não pode deixar de ver que
as últimas derrotas militares podem facilitar sua derrubada" (Lenin, O
Socialismo e a Guerra, 1915). Como uma organização comunista, a OCI-CI não se
furtará de declinar seus objetivos pela revolução socialista em todo o mundo
ocidental e oriental, o que significa que qualquer unidade de ação militar com
organizações ou governos nacionalistas burgueses islâmicos não representa abrir
mão de um segundo objetivo surgido simultaneamente na guerra antiimperialista,
ou seja, a guerra de classe contra o capitalismo nativo (os regimes islâmicos),
disputando a direção política das massas árabes e muçulmanas com as
organizações fundamentalistas e apontando a necessidade histórica da revolução
socialista em todo o "mundo muçulmano", como via de superação do
baixo nível de desenvolvimento de suas forças produtivas.
RECONSTRUIR A QUARTA INTERNACIONAL, OU SUCUMBIR À BARBÁRIE
IMPERIALISTA
Se a mobilização de massas permeia os países árabes e
muçulmanos como um rastilho de pólvora, gerando uma profunda instabilidade para
as burguesias corrompidas e subservientes ao imperialismo, nos países
ocidentais, o impacto político da ampla frente contra-revolucionária sobre o
movimento operário foi bem mais eficaz.
As ONGs (Organizações Não Governamentais), patrocinadoras
dos movimentos antiglobalização, foram as primeiras a "capitular"
diante da pressão da burguesia. Suspenderam as manifestações contra o FMI e o
Banco Mundial, marcadas para o dia 26 de setembro e em seu lugar convocaram
atos pela "paz e contra a guerra" totalmente esvaziados. Já a
esquerda reformista tradicional, incluindo os renegados do trotskismo,
esforçou-se em encontrar citações marxistas para condenar, supra-historicamente
e por cima de qualquer situação concreta da luta de classes, o terrorismo. Na
Argentina, que atravessa um período eleitoral, a busca frenética por votos
embotou qualquer esboço da esquerda para enfrentar a opinião pública
pequeno-burguesa, embriagada com a propaganda antiterror, esforçando-se em
passar a imagem de pacifistas para tentar eleger algum deputado. No Brasil, o
governo Fernando Henrique Cardoso baixou um "pacote antiterrorismo",
que autoriza a espionagem política sobre as organizações "suspeitas de
terrorismo" (leia-se, a esquerda revolucionária) com o apoio da Frente
Popular (Partido dos Trabalhadores). Na Colômbia, temendo ser também alvo dos
caças ianques, as Farc não demoraram para ratificar suas intenções de celebrar
a paz com o governo Pastrana, abdicando de qualquer perspectiva revolucionária
socialista.
Os mais "ortodoxos" pseudo-trotskistas, agora,
quando as toneladas de bombas ianques caem sobre o Afeganistão, podendo levar à
morte mais de 300 mil civis (seja pela fome, frio e doenças), segundo a própria
Unicef, limitam-se a levantar quando muito e timidamente a "defesa do
Afeganistão e o fim da guerra", um verdadeiro tributo à inação das massas,
sedimentando um clima de suposta impotência dos países bombardeados,
favorecendo desta forma o caminho da vitória imperialista, como aconteceu no
Iraque e Iugoslávia. Cinicamente, dizem que o imperialismo é vítima de sua
própria política, ao mesmo tempo em que negam e condenam furiosamente o direito
de revide das vítimas reais do terror imperialista.
Sob esta política de conciliação de classes será muito
difícil edificar um vasto movimento de massas pela derrota do imperialismo e a
vitória do Afeganistão sobre os carniceiros ianques. Desgraçadamente, o
fundamentalismo islâmico, Bin Laden e Al Qaeda parecem mais radicais e
corajosos no enfrentamento com o imperialismo do que os semipacifistas,
centristas e revisionistas do leninismo e trotskismo, que ainda devem estar com
suas faces molhadas pelas lágrimas derramadas às vitimas do Pentágono e da CIA.
É sob o impacto dos grandes fatos históricos da luta de
classes na época atual de hegemonia do imperialismo (época de guerras e
revoluções, segundo Lenin), que se processa a decantação entre genuínos
revolucionários e o arco dos reformistas e revisionistas que infestam as
fileiras da classe operária. A OCI-CI (Argentina) realiza um chamado aberto e
franco a todos aqueles que anseiam pela derrota militar e política do
imperialismo e o surgimento de uma nova ordem socialista mundial, para que
construamos o partido revolucionário em escala internacional, única ferramenta
que poderá conduzir à vitória final sobre o imperialismo morticida. Somente a
reconstrução da Quarta Internacional, sobre bases programáticas principistas e
revolucionárias, poderá estabelecer uma perspectiva socialista para o atual
horizonte cinza e nebuloso pelo vapor da guerra imperialista perpetrada contra
todos os povos do planeta que ousam enfrentar sua hegemonia baseada na
exploração e espoliação do proletariado mundial.
Liga Bolchevique Internacionalista
Outubro de 2001
(Publicado originalmente na Revista Marxismo Revolucionário nº 4)
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